Na última segunda-feira (27), MC Cabelinho disponibilizou em todas as plataformas de streaming seu primeiro e mais novo álbum: Ainda. Junto das 13 canções que compõe o disco, Cabelinho também anunciou o clipe da primeira faixa do álbum, Reflexo, com produção de Dj Portugal Dj Juninho da Espanha e participação do rapper BK. Confira:

O som é enfático. Não faz metáforas para esconder a denúncia nem tenta disfarçar a mensagem cruel dos versos. Reflexo é uma mistura do beat do funk com arranjos do trap e a letra de um rap clássico. Esses três componentes falam de uma coisa só: a violência policial e seu recorte de classe e raça.

A chegada da polícia assusta e mata os habitantes. O força de segurança do Estado se torna mais um aparato de repressão e extermínio, sob tutela de políticos que nunca viram um pobre na vida. O clipe viaja entre os becos e vielas que formam a bonita paisagem e é perfurado por marcas de tiro e de bala perdida.

Reflexo é um grito de impotência, frustração, desânimo. Reflexo é o desespero da rotina de assassinatos de inocentes em um plano de aniquilação racista e demofóbico. O som denuncia o cansaço de uma negritude que vê o assassinato de George Floyd todo dia, mais de uma vez por dia na favela do Brasil. Mas sem gerar comoção. Despercebido, banalizado. E principalmente: piorando a cada momento.

Ainda: trilogia em um álbum

O disco traz três pontos de vista: as crônicas da vida urbana, as canções de amor e as músicas de superação. Confira a capa:

O primeiro conjunto já ganhou uma palhinha com a canção “Maré”, lançada no mês passado. Mas, no álbum, a literatura realista do MC Cabelinho tem o seu ápice na faixa de abertura, “Reflexo”.

A música “Verdade de Perto”, gravada com o seu ídolo MC Orelha relata a união do PPG (as favelas do Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, onde Cabelinho cresceu) quando as ameaças externas se aproximam.

Essa Noite” e “Recaídas” são músicas com batidas mais ligadas ao pop, com uma temática romântica e participações do cantor Gaab e da cantora Budah.

A terceira parte é composta pelas faixas “Favela Venceu”, “Tem Bala Sou Eu” e “Agradecer”. Com arranjos feitos no teclado, MC Cabelinho canta a força e a delicadeza que é viver dentro da favela, de modo a abrir espaço para gerações futuras sonharem o mesmo sonho que o norteia.

Ainda é um disco de crônicas que documenta a existência do corpo negro em um país violento e opressor, e leva a mensagem da favela para o asfalto, que ainda não saiu de casa devido à pandemia do novo coronavírus.