Chega nas plataformas digitais nesta sexta-feira (30) o novo álbum de MV Bill, “Voando Baixo”. Durante coletiva de imprensa em que o Latinos Brasil participou, o rapper falou sobre o processo de criação durante a pandemia, liberdade de ser um artista independente e, claro, a importância dos fãs.

Apesar de, inicialmente, ter distribuição virtual, MV Bill pretende lançar versão física do álbum em vinil (Foto: Reprodução/Instagram)

Voando Baixo

O álbum chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (30) e conta com 12 faixas inéditas. Fã de álbuns completos, o artista conta que foi na contramão do que acreditava nos últimos tempos. Lançando apenas singles, veio de um internauta a sugestão de fazer um disco completo. A ideia logo se replicou entre os seguidores, e “Voando Baixo” é o resultado da parceria de MV Bill com os fãs. Com a produção iniciada em janeiro desse ano, as faixas trazem um contexto do que o Brasil está passando ultimamente, “além de estar visceral, ele está bastante atual”, Bill completa.

“Eu to fazendo um disco que eu não vou fazer batidinha da moda, para que você me ouça. Você tem que me ouvir porque você curte, que você acha tão importante que vai mudar a sua realidade”.

Arte e acessibilidade

O projeto não terá apenas a capa do álbum disponível nas plataformas. MV Bill também disponibilizou em seu canal no YouTube o full album com a capa em movimento. Como muitas pessoas não têm acesso às plataformas digitais, por serem pagas, ele teve essa iniciativa para que seus fãs não só ouvissem o álbum, mas tivessem uma experiência completa. Isso porque a capa será animada conforme a música. Para ele, essa foi uma forma de prender o público no vídeo e fazer com que ouvissem o álbum até o final.

Atemporalidade

O segredo, segundo ele, para sua atemporalidade musical é não citar nomes em suas músicas. Bill percebeu que ao citar nomes de artistas, por exemplo, ele sujaria sua obra, já que pessoas são passageiras. Quanto à política, infelizmente não é algo tão passageiro como as pessoas e sua fama. Os erros do governo continuam e ecoam pelos anos, fazendo com que “Só Deus pode me julgar”, de 2002, continue tão atual.

Cada era do artista tem uma música marcante. “Ficha Suja”, por exemplo, foi lançada durante era Temer na presidência, já “Causa e Efeito” foi lançada em 2010, durante o governo Dilma. Quando questionado sobre a faixa de “Voando Baixo” que teria potencial para repetir os feitos, o rapper aposta em “MILICÍTICO”.

 

Pandemia

Voando Baixo” foi gravado e produzido durante a pandemia do COVID-19. Isso fez com que as gravações fossem feitas remotamente. Bill, inclusive, chegou a gravar alguns trechos em sua própria casa, de forma caseira com um microfone.

Esse contexto fez também com que o projeto fosse ainda mais político do que os outros. Tudo serviu como inspiração para as letras do disco, tornando o álbum específico para o momento em que o Brasil está: “Eu não sei se eu faria um disco desse se a gente tivesse em outro momento”, revela.

“Quando você fala de música, no Brasil, você pensa logo numa música que é pra mexer o corpo, que é pra dançar. Eu não fiz um disco que é para o corpo, eu fiz um disco que é para mente. Não é dançante, é reflexivo. Com as pessoas dentro de casa, as pessoas podem dar um pouco mais de atenção”.

 

Proximidade com os fãs

Devido à quarentena, os shows foram cancelados. E para se aproximar com os fãs e trocar vivências, a saída foi a internet. O cantor já era usuário das redes sociais, mas durante a quarentena, essa relação se estreitou.

“O que me segurou, o que tem me segurado até hoje, são justamente as pessoas que gostam do meu trabalho, são os fãs. Às vezes eu faço até algumas coisas didáticas para explicar para as pessoas que o seu clique vale muito para nós. Quando você ouve nossas músicas nas plataformas digitais, assiste nossos vídeos no nosso canal, você não só está nos prestigiando. Você está nos fortalecendo financeiramente. Isso vai virar receita pra gente conseguir viver, pagar as contas e ao mesmo tempo continuar produzindo pra alimentar nosso público com nossas músicas. Por isso que eu ouço bastante as pessoas que me ouvem.”

Em época de cancelamento, ele não foge do assunto: “Às vezes, rola um medo muito grande de alguns artistas do cancelamento virtual. Mas o cancelamento só pode ser feito por quem te segue. Não tem como uma pessoa que não te segue, te cancelar. Quem não te prestigia, não te cancela”.

A importância dos fãs em sua carreira vai além. Por ser um artista independente, os fãs se tornam essenciais para ele continuar com seu trabalho: “Eu aprendi a tratar a pessoa que curte meu trabalho, internauta ou fã, como a minha riqueza, a minha prioridade. É aquilo ali que me mantêm vivo. (…) Se eu não tiver pessoas para clicar no meu produto, não vai valer de nada”. Através dos fãs, que seu sucesso repercute e traz mais admiradores. Ao compartilhar o trabalho do artista, os fãs acabam atraindo novos seguidores que acabam virando fãs também.

“Quando tem fidelidade, você tem que guardar em um cofre. É difícil hoje, em um mundo tão extremo, as pessoas não estão acreditando em nada. É difícil ter um grupo de pessoas que acreditam em alguém, que acredita em alguma coisa. E eu consegui isso”.

Independência 

Apesar das limitações, MV Bill não pensa em assinar com nenhuma gravadora. “Ser independente é ótimo. Mas tem uma grande dificuldade por não ter uma grande configuração para trazer a realidade suas vontades, bancando as realizações”. Apesar disso, sua liberdade criativa e artística é ainda mais valiosa. Muitos artistas de gravadoras não conseguem ter a liberdade que Bill possui. Ele diz isso por não ter a pressão de lançar algo imediatamente ou após anos. “Você tem liberdade, mas tem a dificuldade de fazer tudo sozinho. A perda da liberdade é muito danoso na carreira, e danificaria a interação direta com os fãs”.

O álbum “Voando Baixo” já está disponível nas plataformas digitais e o full album no canal do YouTube do MV Bill.