A produção inspirada em crimes reais estreia no streaming com elenco de peso e direção ousada, mas entrega uma narrativa que nem sempre mantém o ritmo

Personagens presentes na nova série Tremembé (Divulgação)

Sem entrar no debate sobre transformar tragédias reais em entretenimento, a proposta aqui é simples: analisar Tremembé como produto audiovisual. A série estreou esta semana no Prime Video e rapidamente se tornou um dos assuntos mais comentados do streaming. Dirigida por Vera Egito, a produção mergulha no cotidiano de presidiários envolvidas em crimes que chocaram o país.

A trama apresenta a convivência de criminosos condenados por diferentes assassinatos, Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, além de Roger Abdelmassih e Sandra Regina Ruiz, conhecida como “Sandrão”.

Elenco e caracterização que impressionam

Logo de início, um ponto positivo: o elenco é excelente. As escolhas de atores são precisas, e a caracterização dos personagens reais está impecável. Desde os trejeitos até a expressão facial, tudo contribui para as cenas.

Quando soube que Marina Ruy Barbosa interpretaria Suzane von Richthofen, confesso que fiquei receoso. Antes dela, Carla Diaz havia dado vida à mesma personagem em outra produção, dividindo opiniões, embora, na minha visão, tenha entregado uma atuação marcante.

Para minha surpresa, Marina conseguiu superar as expectativas. Sua interpretação é fria, calculada e convincente. Em muitos momentos, parecia realmente encarnar a figura manipuladora de Suzane, com um olhar que mistura fragilidade e controle.

Comparações inevitáveis e ritmo irregular

Em diversos momentos, Tremembé me lembrou “Vis a Vis”, a aclamada série espanhola que também explora o universo prisional, porém, especialmente o feminino. A diferença é que, aqui, a realidade se impõe de forma mais crua. As reconstituições dos crimes, embora bem produzidas, acabam gerando certo incômodo. É impossível esquecer que o que se vê na tela aconteceu de verdade, e essa proximidade causa choque.

A série começa muito bem, com ritmo intenso e atuações sólidas, mas aos poucos perde fôlego. O desenvolvimento se torna previsível, e a narrativa, que antes mantinha o espectador tenso, passa a oscilar entre momentos impactantes e trechos arrastados. Essa irregularidade enfraquece parte da experiência.

Casos que ainda causam repulsa

Entre os episódios que mais chamam atenção, está o caso da menina Isabella, talvez o mais perturbador de todos. Mesmo depois de tantos anos, é impossível não sentir repulsa ao relembrar o que aconteceu. Lucas Oradovschi, que interpreta Alexandre Nardoni, aliás, é absurdamente parecido com o real, o que alivia é que deram menos atenção a este crime, se for comparar com o de Suzane, que ganha mais protagonismo.

Essas representações de crimes reais funcionam como gatilhos para o público, e Tremembé sabe explorar isso. Lembram episódios como a entrevista dada pela Suzane ao programa Gugu na Record, e também as gravações para o documentário da Netflix, focado na Elize Matsunaga.  Contudo, em alguns momentos, a série parece se apoiar demais no choque, em vez de aprofundar a complexidade emocional das personagens.

Conclusão: uma produção corajosa, mas irregular

No fim das contas, Tremembé é uma série corajosa e tecnicamente bem executada, com ótimo elenco e boa trilha sonora. Acerta nas atuações e na ambientação, mas se perde no ritmo e na repetição de impacto. Apesar disso, é impossível negar o mérito de trazer o tema à tona com uma produção visualmente poderosa e atuações marcantes, especialmente a de Marina Ruy Barbosa, que entrega um trabalho de respeito.