Samantha! é a primeira série de comédia brasileira da Netflix. Ela acompanha a vida de Samantha (Emanuelle Araújo de “SOS Mulheres ao Mar”) uma ex atriz mirim que tinha um programa infantil no anos 80 que ela busca permanecer na fama e na televisão enquanto lida com a saída do seu ex marido Dodói (Douglas Silva de “Cidade de Deus”) da cadeia e com o impacto que isso tem na criação dos filhos Cindy (Sabrina Nonato) e Brandon (Cauã Gonçalves). Sua premissa permite que a série trabalhe bastante com sátiras e críticas sociais, o que a difere das típicas comédias pastelão feitas no país e cria um universo divertido e que beira o absurdo por brincar com a falta de consequências para as ações dos personagens (coisa que também é bastante explorada em outras comédias de críticas como Unbreakable Kimmy Schmidt).

Anos 80

A Netflix vem trabalhado bastante a nostalgia nos seus projetos. Não só em Stranger Things ou Everything Sucks que são séries totalmente ambientadas em décadas passadas mas também em episódios de Black Mirror, filmes originais, etc. Samantha não é diferente. Ao longo dos episódios nós somos levados diversas vezes, através de flashbacks, para os anos 80, mais especificamente para o programa infantil da Samantha. As piadas brincam com elementos da época que, sob o ponto de vista atual, aprecem absurdas. O mascote do programa da Samantha (que se assemelha bastante ao Xou da Xuxa, com os “Plimploms” sendo uma paródia dos “Baixinhos”) é uma caixa de cigarros chamada Cigarrinho e ela faz propagandas da sua boneca e até de cerveja com uma clara apelação pras crianças “pedirem pro papai e pra mamãe comprarem”. Além disso a série brinca com boatos com a carreira da Xuxa, logo no começo da série o agente da Samantha sugere que ela pose nua, a boneca do programa tinha mesmo uma faca escondida no pescoço e ao tocar o disco da música “Abraço Infinito” ao contrário é possível ouvir uma propaganda de Ketchup.

Digital influencers

Em um dos melhores episódios de Samantha, a série faz uma forte crítica as atuais “febres da internet”. Nele, somos apresentados a Laila, uma “digital influencer” que passa a noite com Dodoi na casa da Samantha. Interpretada pela Lorena Comparato (irmã da Bianca Comparato de 3%), a personagem foi baseada em personalidades do instagram, e, segundo a atriz, bastante inspirada na Kylie Jenner. Ela passa o episódio todo gravando lives pra rede social, expondo os mais diversos detalhes da vida dela, e, consequentemente, da vida da família da Samantha. O episódio é cheio de sacadas que remetem a essas personalidades que ganham dinheiro expondo sua privacidade e como muitas apoiam várias causas apenas para ganhar mais seguidores. A Samantha inclusive inventa que está em Paris e faz constantes posts fingindo que a sua casa é um hotel. O episódio também faz crítica a efemeridade de uma celebridade de internet quando a Samantha diz que seus fãs, que mandavam cartas e afins, são muito mais fiéis que os seguidores da Laila. Tudo isso é mostrado com bastante humor e a semelhança com a realidade é o que deixa tudo mais engraçado.

A busca pela fama e a Televisão

Ao longo da série, varios personagens afirmam que “a televisão está morta” e esse argumento é comprovado com as diversas gafes da Samantha em rede aberta que não parecem impedi-la de voltar para algum outro programa. Apesar disso, Samantha segue tentando a qualquer custo se manter relevante numa mídia que, com a internet, não tem mais tanto espaço. A vontade de agradar os fãs, o egoísmo e a vontade de voltar a ser famosa nos dão ideia que a Samantha parou de crescer a partir do momento em que virou uma celebridade mirim, e isso é o ponto principal da série. Acaba que a Samantha não é a heroína que esperamos, mas ao acompanhar a vida dela, ao longo dos episódios, acabamos simpatizando com a personagem e torcendo pra que ela aprenda com as atitudes dela e que as ideias mirabolantes dela deem certo.

 

Por fim, Samantha! leva algum episódios pra achar o seu tom e realmente entreter o telespectador. Porém, quando vamos conhecendo mais os personagens as piadas ficam ainda mais engraçadas e passa a ser divertido acompanhar a tragetória deles. A série tem problemas tirando muito sarro do ativismo (atravéz a filha da Samantha, a Cindy, que se mostra a mais consciente e madura da família) e com alguns enredos meio sem sentido, mas vale a pena dar uma conferida por ter um tipo de comédia diferente do que estamos acostumados no Brasil.