Dulce María e Maite Perroni movimentaram bastante as redes sociais nos últimos dias por conta de suas declarações sobre o feminismo e suas vertentes.

Um trecho de Soltera, nova música da Perroni diz:

No te confundas, yo no soy feminista
Pero tampoco te me pongas machista
Entiendo lo que sientes, yo soy independiente
Tú quieres ser la fiera, yo quiero estar soltera

Dulce María que atualmente participa do The Despeinadas, grupo declaradamente feminista, que é sobrinha neta de Frida Kahlo, dá voz à No Pares como hino de vida desde os tempos de RBD e também gravou sua própria versão de Ya No, música da inesquecível Selena, publicou em suas redes sociais um vídeo contra o aborto, onde personalidades da mídia (incluindo Cristiano Ronaldo, acusado de estupro), falam sobre as mães que escolheram dar-lhes vida, apesar de circunstâncias contras.

Depois disso, Dulce ainda debateu com fãs que foram contra seu pensamento, dizendo que não podem falar sobre alguém que não conhecem direito, pois, segundo ela, o que os fãs conhecem dela, é apenas um personagem, se referindo à Roberta, de Rebelde.

Seus fãs se revoltaram pois Rebelde acabou há anos, o que deu a entender é que o que Dulce mostrou ser depois do RBD era apenas um personagem dela, não o que ela é de fato. E se seus fãs não a conhecem, a culpa é exclusivamente dela. E como se não bastasse toda a discussão que ela causou em suas redes, Paco Álvarez entrou na briga também e começou a discutir com os fãs de sua noiva. E a história foi mais longe do que deveria.

As duas, claramente, foram duramente criticadas por seus seguidores por tais fatos. Mas precisamos falar sobre o motivo de elas terem sido totalmente reprovadas.

Primeiro que as duas confundem feminismo com femismo. Isso porque o feminismo não é o contrario do machismo, que seria desvalorizar os homens e desqualifica-los, como machismo faz com nós mulheres. Isso é o femismo. O feminismo é a busca por direitos iguais. Igualdade entre homens e mulheres. A luta por sermos valorizadas por sermos seres humanos capazes de fazer qualquer coisa que nos proponhamos a fazer.

Segundo que as duas são figuras públicas, e além do mais, mulheres. Que estão onde estão por conta do feminismo, que lutou para que elas pudessem cantar, atuar, ter voz na sociedade. Para que eu pudesse escrever esse texto aqui. E por elas serem pessoas com um grande alcance na mídia, elas deveriam procurar saber mais a respeito sobre o que falam e, principalmente, saber como falar.

Saber como falar pois muitas mulheres as têm como exemplos, espelhos a serem seguidos. E imaginem só, se todas as mulheres fossem contra o feminismo, como estaria o nosso mundo que ainda não é aquela maravilha para as mulheres.

Mas você, meu leitor, deve estar se perguntando, mas a Dulce só falou que é contra o aborto, o que isso tem a ver com o feminismo? Tudo! Tudo pois ao ser contra algo que só se diz respeito ao corpo de outra mulher, você tira o poder dela de fazer o que quiser com a vida dela, você tira o direito dela de escolher como viver.

“Ah, mas Jéssica, isso não é ponto aqui. A mulher pode escolher não ficar grávida, tem remédios que ajudam com isso, tem camisinha”. Não me venham com esse papo! O número de mulheres estupradas mundo a fora são gigantes. No Brasil, mais de 5,5 milhões de crianças são registradas sem o nome do pai. Aborto é questão de saúde pública, principalmente em países sub desenvolvidos.

Crianças são abandonadas na rua, sem direito a casa, comida e educação adequadas. E tudo isso poderia ter sido evitado se a mulher tivesse tido o poder da escolha em ter ou não o filho, após ver se teria condições financeiras e, principalmente, psicológicas de criar um filho.

Tudo isso poderia ter sido evitado se o machismo não existisse, se o feminismo fosse o que rege o Brasil, o México, o mundo. Ah, e por falar no nosso querido México, não podemos deixar de falar que ele é um dos países mais machistas da América Latina, “ganha” até do Brasil nesse quesito. Lá as mulheres são criadas para cuidar da casa e dos filhos (não muito diferente daqui, não é mesmo?), para obedecer os homens e casarem de véu e grinalda.

Tendo em vista tudo isso,  tenho que deixar claro aqui que nem Dulce, nem Maite nunca falaram que são feministas. Afinal, ninguém tem a obrigação de ser feminista por ser mulher não! A mulher pode sim cuidar da casa e dos filhos, obedecer ao marido, mas isso se ela quiser. Se ela escolher isso pra vida dela! Assim como ela pode ser médica, astronauta, jornalista, atriz, cantora, ou qualquer coisa que ela quiser.

Aqui no Brasil ela pode escolher ter um filho resultado de um estupro ou de um marido manipulador. Mas até conseguir demonstrar que a gravidez é fruto de algo assim, a gravidez já foi longe demais. E acaba que a opção mais fácil é buscar um meio alternativo para que isso aconteça. E pensemos bem, esse caminho alternativo é sempre mais perigoso e com mais chances de morte. Na Cidade do México o aborto é legal, já nas outras regiões do México, não.

A questão aqui não é o aborto ou as definições de feminismo e femismo. O ponto é que a mulher deveria ter o direito de escolher ser o que quiser, de fazer o que quiser, quando e como quiser.

Dulce e Maite têm o direito de falarem e cantarem tudo o que quiserem, desde que não desanimem outras mulheres a serem feministas, que não falem coisas sem saberem o que falam. Desde que tenham argumentos sensatos para embasarem o que falam.

Mas não podemos esquecer que elas também são seres humanos, que merecem respeito a cima de tudo. Que erram e, infelizmente, aqui, para alguns, tenham anulado todos os motivos de orgulho que elas já deram. Decepção é algo inevitável, mas sair atacando não resolve nada e só piora a situação. O melhor aqui é uma conversa para que os todos os lados possam compreender o que se passa na cabeça alheia.