Como muita gente sabe, estamos passando por um momento turbulento no país, com muita desinformação e conflitos de ideias. Nesse mar de incertezas, precisamos de algo pra nos lembrar o que precisamos para o Brasil e para a vida.

Os filmes a seguir tem fortes mensagens sociais e políticas, apesar de nem se declararem como tal. São histórias boas de assistir, mas que carregam um subtexto poderoso, que precisamos ter em mente quando tudo está confuso e com a ameaça da diminuição de direitos.

1.A Onda (Die Welle, 2008)

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Nesse filme alemão, um professor (Jürgen Vogel) tem a tarefa de ministrar uma oficina sobre o Estado Autocrático (sistema de governo onde o poder é centrado em um único governante) a uma turma de ensino médio. Querendo engajar os alunos, ele propõe um experimento: criar um sistema autocrático na turma ,tendo ele como “chefe de estado”. Entretanto, os jovens se empolgam e a situação foge do controle, levando a situações drásticas.

A Onda mostra como nem sociedades democráticas estão livres do fascismo. O filme explora as origens do pensamento fascista, à medida em que o sentimento de pertencimento ao grupo sobrepõe os interesses e liberdades dos indivíduos. Adolescentes comuns tornam-se militantes dispostos a tudo em nome de sua facção, e só o percebem quando é tarde demais. O mais alarmante é que o filme é baseado em um experimento real, não em uma mera ficção do cinema.

Você pode assistir A Onda no Netflix, e a rede está produzindo uma série baseada no filme com lançamento em 2019.

2. Escritores da Liberdade (Freedom Writers, 2007)

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Outro filme sobre um experimento real em sala de aula, dessa vez com resultados positivos. Em 1995, a jovem professora Erin Gruwell (Hillary Swank)começa a dar aulas no primeiro ano de uma escola que possui um programa de integração de alunos de cor. As tensões raciais e a vida de gangue que os jovens levam tornam impossível manter a ordem na classe, muito menos ensinar alguma coisa. Isso muda quando a professora resolve dar cadernos para que os alunos anotem seus pensamentos diariamente.

Uma bela história, que deixa claro o poder da educação para superar barreiras sociais e econômicas numa sociedade. Ao dar espaço para os alunos expressarem suas angústias e trocarem experiências, a srta. Gruwell cria um ambiente seguro, longe da violência, em que é possível ensinar coisas que nenhum outro professor da escola acreditaria que eles conseguissem aprender. Isso porque todo o corpo docente vê os estudantes integrados como nada mais do que marginais.

Escritores da Liberdade é baseado no livro de mesmo nome, que é uma coletânea dos cadernos  elaborados pelos alunos de Gruwell. O filme se encontra disponível no catálogo da Netflix.

3. O Menino do Pijama Listrado (The Boy in the Striped Pyjamas, 2008)

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Esse aclamado filme sobre a Segunda Guerra, baseado no romance de mesmo nome, mostra os horrores do Holocausto e os bastidores da propaganda nazista, principalmente no que se refere aos campos de concentração.

Na história, o jovem Bruno (Asa Butterfield), filho de um oficial alemão, se muda com a família para o interior por conta da promoção que o pai recebe. Lá ele conhece Schmuel (Jack Scanlon), um menino judeu que vive num lugar muito peculiar: um campo de concentração. Sem entender a realidade que os prisioneiros enfrentam ali, Bruno vira amigo dele, e os dois conversam e brincam separados por uma cerca.

A amizade dos meninos é tocante, pois ambos, completamente alheios às complexidades de sua época, enxergam através das diferenças étnicas e sociais apenas a característica comum de serem crianças. Enquanto isso, na casa de Bruno, observamos como as influências do patriotismo e dos filmes de propaganda mascaram um horror que mora logo ao lado da morada do oficial.

O filme não é leve, mas é necessário para refletirmos sobre as consequências de se fechar os olhos para as atitudes do governo em nome apenas da própria “segurança”. Ao contrário do que se pode imaginar, o povo alemão não tinha ciência do que acontecia nos campos; a verdade só veio à tona quando já era tarde demais. Apesar disso, passa uma mensagem de esperança, que o amor e a solidariedade podem surgir em meio ao ódio e à opressão.

O Menino do Pijama Listrado está na Netflix.

4. A Forma da Água (The Shape of Water, 2017)

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O filme ganhou destaque como vencedor dos Oscars de Melhor Filme, Trilha Sonora Original e  Direção de Arte em 2018, além de dar o prêmio de Melhor Diretor para Guillermo del Toro.

Aficcionado por monstros e criaturas, del Toro criou uma fantasia que subverte a narrativa dos filmes de monstro. Historicamente, monstros em filmes servem como representação dos medos e aflições de suas épocas, sendo usados também para tratar assuntos considerados tabu sem temer a represália da sociedade. Aqui, a história coloca a criatura sob uma luz empática e humanizada. E recontextualiza o significado do que é ser um monstro.

O romance entre a moça muda e o homem-peixe reflete as tensões dos Estados Unidos dos anos 60, que ainda podem ser sentidas nos tempos atuais. Para escapar de um vilão que representa nada menos que o tradiconal “American way of life”, uma criatura nã0-humana precisa se associar a um grupo de pessoas – cada uma marginalizada em uma esfera diferente – que querem ajudá-la por se solidarizarem com ela e buscarem justiça. Esse pequeno mas poderoso ato heroico é a bela mensagem que A Forma da Água nos deixa.

Bônus: outro filme fantástico do diretor que retrata um conto de fadas em meio a uma realidade fascista é O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006)

5. Histórias Cruzadas (The Help, 2011)

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Com um elenco estelar, Histórias Cruzadas gira em torno de três mulheres: Skeeter (Emma Stone), Aibeleen (Viola Davis) e Minny (Octavia Spencer). Assim como no filme acima, a trama se passa na década de 1960, dessa vez em Jackson, Mississipi. Na época, o estado era um dos que possuía leis segregacionistas contra negros, e em Jackson a situação das empregadas domésticas não era nada favorável.

Nesse clima de tensão, surge Eugenia “Skeeter” Phelan, uma moça branca rica que volta à sua cidade natal depois de se formar na Universidade do Mississipi, com aspirações de se tornar jornalista. Observando como são tratadas as empregadas e se perguntando onde está a mulher que cuidou dela desde a infância, Skeeter resolve escrever uma coletânea de relatos dessas mulheres – algo extremamente perigoso de se fazer em Jackson. O filme é narrado por Aibeleen Clark, uma das empregadas, que se expressa melhor através da palavra escrita.

O filme conta com vários momentos divertidos e também tem cenas emocionantes, graças ao roteiro e ao excelente trabalho das atrizes. Mas o que o torna marcante é a forte mensagem sobre representatividade. Em uma atmosfera onde os negros são silenciados e oprimidos, Skeeter, com sua posição de privilégio, abre espaço para que essas mulheres venham à frente e exponham os problemas que enfrentam, suas realidades e sua perspectivas. Uma grande mudança é provocada pelo simples ato de perguntar.

Histórias Cruzadas é uma adaptação do romance de mesmo nome escrito por Kathryn Stockett. O filme também pode ser encontrado na Netflix.

6. Princesa Mononoke (Mononoke Hime, 1997)

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San (Yuriko Ishida), a Princesa Mononoke, e um de seus irmãos lobo

Uma adição pouco convencional à lista, este clássico produzido pelo Studio Ghibli e dirigido pelo mestre Hayao Miyazaki é um dos melhores filmes a discutir a relação homem versus natureza.

Em uma terra habitada por feras e deuses antigos, o jovem príncipe Ashitaka (Yōji Matsuda)tem sua aldeia invadida por um deus-Javali corrompido pelo ódio. O príncipe acaba sendo amaldiçoado pelo mal que possui o deus, e a ferida em seu braço irá consumir-lhe até a morte. Aconselhado pelos anciões de sua aldeia, Ashitaka parte com a missão de encontrar a causa da ira do deus-Javali, que talvez levaria à cura de sua maldição. Nisso, ele vai parar no meio de uma guerra feroz entre deuses e humanos.

O que mais chama a atenção nesse filme é que ele não tem o típico discurso bem vs mal que muitos filmes adotam para passar uma mensagem ambientalista. Em vez disso, ele explora as complexidades das relações entre homem e natureza, apresentando também conflitos entre humanos e conflitos entre espíritos da floresta. A vida selvagem é retratada como uma entidade sagrada e benevolente, mas também feroz e traiçoeira. Fica a critério do espectador tirar suas próprias conclusões e assim como Ashitaka, “julgar com os olhos do coração”.

A temática é recorrente em outros fimes de Miyazaki, então vale a pena conferir sua filmografia.

 

Infelizmente não tem nenhum filme brasileiro na lista, mas alguns deles são grandes nomes do cinema mundial e abordam temas universais, apesar de suas histórias se passarem em lugares específicos.

O cinema é uma arte belíssima, mas também tem um grande potencial de mudar pesnamentos e apresentar novas visões de mundo, para as quais devemos estar sempre abertos a entender e respeitar.

E aí? Já está inspirado?