Bojack Horseman já está no ar há algum tempo, mas nunca deixa de surpreender o público. O show apresenta uma variedade de personagens, em sua maioria animais antropomórficos que parecem mais humanos do que a maioria dos personagens em muitas series live action. Com uma comédia inteligente e um diálogo expositivo, Bojack Horseman consegue abordar com sucesso temas como saúde mental e vício sem parecer desesperado para ser sério e causar ansiedade aos fãs (como Rick e Morty faz às vezes)

 

Este mês, a série estreou sua quinta temporada e enquanto alguns fãs sentiram que esta desconstruiu toda a vibe positiva que a 4ª temporada deixou apenas pra continuar explorando a infelicidade de seus personagens, a 5° temporada na verdade usa da Metalinguagem para falar sobre um problema que tem assombrado a série nos últimos anos: nosso relacionamento com Bojack.

 

Philbert.

Nós somos reintroduzidos aos personagens quando basicamente todos eles estão trabalhando juntos para produzir um novo seriado policial chamado Philbert. Logo de cara, a semelhança emocional entre Philbert e Bojack é óbvia (até suas casas são iguais, em cada detalhe, o que serviu como uma ótima piada). Como efeito de seu novo vício em analgésicos, Bojack começa a perder o sentido do que é real e do que é ficção, misturando acontecimentos de sua vida com a de Philbert. No começo, parece que é tudo coisa da cabeça dele, mas conforme observamos os enredos das personagens mais de perto (especialmente Diane, que começa a questionar seu relacionamento com Bojack depois de descobrir o que aconteceu com a Penny no Novo México), entendemos que esta narrativa é exatamente o que os criadores tinham em mente. Assim como o Philbert, Bojack continua cometendo erros sem ter muita noção e insistindo que é ele quem mais sofre com suas ações. Seu vício e recente desentendimento com Diane (que aprendemos nesta temporada que tem uma influência ainda maior sobre ele do que pensávamos) só pioram as coisas e a gravidade de suas alucinações vai aumentando rapidamente fazendo com que ele vá de comprometer seu dia com Hollyhock até estrangular Gina, sua nova colega de trabalho e amante/namorada durante as filmagens de Philbert.

 

“Justificando” comportamentos tóxicos na vida real.

Embora esta temporada tenha sido difícil para muitos dos personagens, foi praticamente uma mensagem enviada diretamente para nós, o público. Não apenas porque sentíamos que o Bojack estava melhorando e era hora de ele finalmente ser feliz, mas porque era tudo um truque para nos fazer refletir sobre o que pensamos sobre ele, como nos relacionamos com ele. O seriado faz um esforço contínuo nesta temporada para nos mostrar que o fato do Bojack ser um personagem sensível, falho e complexo que conhecemos tão bem, não significa necessariamente que ele merece um perdão cego por suas más ações e certamente não as justifica. “Head in the Clouds”, em particular, cimenta o paralelo entre Bojack e Philbert, quando Diane percebe que transformar Philbert em um personagem identificável e defeituoso que fez coisas horríveis acaba dando às pessoas uma desculpa para se sentirem melhores consigo mesmos sem reaver suas atitudes e pensando que são bons porque têm boas intenções.

 

O crescimento de Diane.

Como de costume, Diane diz a Bojack o que todos gostaríamos de dizer. Depois de ter uma grande discussão com ele na première de Philbert, na qual ela aponta seus erros e exige que ele se responsabilize por eles, os dois passam algum tempo sem se falar. Durante esse tempo, Diane comete seus próprios erros e recebe um conselho da sua chefe, que diz que “ela exige demais das pessoas, incluindo ela mesma”. Isso a leva a reavaliar algumas das razões pelas quais ela se sente infeliz e o julgamento que ela faz ao Bojack e aos outros. A verdade é que Diane evolui bastante nesta temporada. Em um episódio inicial, ela se envolve com uma polêmica sobre Vance Waggoner, uma ex-celebridade que é uma absoluto babaca na vida real. Ela desaprova as tentativas da mídia de Hollywood de planejar milhares de retornos para ele, mesmo ele parecendo irredimível. Em uma cena em particular, ela diz para a ex-agente de publicidade (e, novamente, amante) do Bojack, Ana, que ela não acredita que pessoas como Vance merecem outra chance, que elas são apenas pessoas ruins. No final da temporada, no entanto, depois de ter ela mesma feito coisas ruins (como dormir com o Sr. Peanutbutter, mesmo sabendo que ele estava com uma nova namorada), Diane diz a Bojack que “não existem pessoas boas ou pessoas ruins, somos todos só pessoas”, provando que ela está disposta a ser mais compreensiva com as pessoas ao seu redor e reforçando que, para ser melhor, Bojack precisa parar de justificar os erros que comete e realmente se esforçar para fazer mais coisas boas.

 

Depois que essa reflexão é lançada na nossa cara, a temporada termina com perguntas. Pessoas prejudiciais são capazes de melhorar e parar de fazer coisas ruins se deixarmos de lhes dar perdão prematuro? Sem a constante validação das pessoas e sem o vício afetar seu comportamento, Bojack pode realmente começar a ser melhor? E o mais importante, pessoas como Bojack, Philbert e Vance são dignas de redenção? Nós não recebemos uma resposta específica, nem mesmo uma promessa de que a rehab realmente ajudará Bojack. Mas ficamos com um alerta e uma mensagem esperançosa. Não, ser complexo e falho não deve ser uma desculpa pra pessoas fazerem coisas ruins e prejudiciais. Mas personagens como Philbert, Bojack e até mesmo Rick Sanchez não nos ensinam isso. Ao acompanharmos suas ações, ambas boas e ruins, nós aprendemos uma maneira de tentar ajudar as pessoas ao compreendê-las, mas sem aprovar seus erros. De tentar dar sentido a esse mundo louco e de inspirar pessoas, inclusive nós mesmos, a reavaliarem suas atitudes e serem melhores, mesmo quando as coisas estão difíceis. A redenção é um conceito complexo e talvez você nunca seja verdadeiramente perdoado por coisas terríveis que fez, mas isso não lhe dá o direito de parar de tentar fazer as coisas certas.