LB ENTREVISTA: Cia de 4 fala sobre a transição do teatro pra TV
GIRL POWER! Cia de 4 Mulheres é um grupo formado pelas atrizes Andrezza Abreu, Anita Chaves, Karina Ramil e Lorena Comparato, que buscam abordar questões cotidianas através do olhar feminino. Atualmente o quarteto está de volta à televisão com a segunda temporada de E! #NoFilter Wknd, projeto roteirizado e atuado por elas. E se você acha que essas meninas pararam por conta da quarentena, você está enganado! Elas emplacaram a série de esquetes “Zodíaca na Quarentena”, disponível Portal Hysteria, com quem já colaboraram no podcast Prato Frio.
Na semana passada, o Portal Latinos Brasil teve a oportunidade de conversar com as meninas da Cia de 4. Elas nos contaram tudo sobre a transição do teatro para TV, processo criativo, inspirações, e muito mais!
Confira a entrevista completa!
Latinos Brasil: Da onde surgiu a ideia de criar a Cia de 4 Mulheres?
Cia de 4: A Cia de 4 Mulheres começou há 10 anos atrás. Nós quatro nos conhecíamos de aulas de teatro e colégio, mas o que nos uniu mesmo foi a vontade de fazermos personagens femininos bons e fortes, já que todas notavam que a gente sempre estava competindo para estar em um único papel feminino nas “peças dos meninos”, e esse papel geralmente se resumia à mocinha, ou à bonita. Quando a gente se juntou, era justamente pra poder fazer peças e criar projetos que tinham mais mulheres, e mais personagens femininos interessantes com suas próprias narrativas, antes mesmo da gente começar a falar de feminismo. A gente começou a carreira da Cia de 4 num festival de esquetes universitário, passamos a nos inscrever em vários festivais, até que ganhamos um e com o prêmio fizemos uma peça autoral chamada Ricardo, que teve duas temporadas de muito sucesso no Rio de Janeiro
LB: Meninas, foi difícil levar o humor feito no teatro para televisão? Qual a maior dificuldade vocês enfrentaram nesse processo de transição?
Cia de 4: Fazer humor sempre foi algo muito natural pra gente. Gostamos muito do termo “humor ácido”. Curtimos muito falar de temas complexos, sérios, políticos até, revestido de uma camada caprichada de humor. O #ENoFilterWknd é um projeto super autoral, então muito da magia que a gente tem no teatro, do presente, do improviso, também acontece, porém lá nos dias de gravação. A maior diferença pra gente é o processo de criação e o tempo de ensaio. Nas primeiras duas temporadas do programa, não chegamos a ensaiar. O processo do teatro é diferente, a gente tem um ritmo de encontro diário durante meses, para fazer um texto fixo durante a temporada em cartaz. Também é muito diferente pra gente o feedback do público, que vem meses depois depois das pílulas serem feitas, e o fato de que no programa a gente assiste tudo e aprova junto com a direção e o canal. No teatro, o olhar de fora fica sempre só pra direção. Temos muito prazer de fazer todos os tipos de arte nas mais diversas plataformas, é sempre prazeroso e desafiador.
LB: São vocês que criam todos os episódios de “E! No Filter Wknd”? Como funciona o processo de criação?
Cia de 4: Nós somos as roteiristas e atrizes do projeto. Nosso processo criativo sempre foi muito junto, a oito mãos. Fazemos reuniões criativas onde cada uma traz uma ideia embrionária ou desenvolvemos juntas, e logo já se torna da Cia. Aí nos dividimos e nos separamos para escrever uma primeira versão e depois fazemos uma mesa de roteiro para ler, reler e dividir ideias para realmente fechar os textos. Com o convite do E! e da LaMotta Filmes para desenvolver o #ENoFilterWknd veio também muita liberdade e responsabilidade. Desde o início eles trocavam com a gente sobre nossas ideias e o que tínhamos vontade de fazer e falar. A nossa voz foi escutada. O canal tem uma linda campanha chamada “Vozes do E!”, sobre a voz feminina, trans, GG e muitas outras. Muito legal poder somar nesse time com nossa voz de jovens mulheres na comédia. Na primeira e na segunda temporada do programa, tivemos temas dados pra gente, que tinham a ver com os filmes que a gente apresenta. O limite era a nossa imaginação mesmo, porém sempre tínhamos que levar em consideração seria filmado em estúdio com fundo preto, pouca caracterização e curto tempo, que são fatores da linguagem do programa. É claro que contamos com uma super equipe para fazer acontecer. Além da produção da LaMotta Filmes e direção do Guilherme LaMotta, na segunda temporada tivemos caracterização da Kalinka Esteves, Cris Malta e Raphaela Martins, figurino da Bárbara Balhe e Carla Alves, com peças especiais do Devant Vintage Brechó, direção de arte da Virgínia e Camilla Recco e fotografia do Filipe Augusto. Todos esses profissionais foram incríveis e foi surreal ver nossas ideias loucas virando realidade.
LB: Qual a sensação de saber que vocês são uma inspiração para varias mulheres?
Cia de 4: Nossa, uma honra! Somos? (risos). Com o tempo fomos nos entendendo feministas, mas sabemos que fazemos parte de uma seção privilegiada da sociedade. Ao longo do tempo fomos reconhecendo esses privilégios de mulheres brancas, moradoras da Zona Sul carioca, com ensino superior completo e temos tentado abrir mais nossos projetos para dar espaço pra outras mulheres criadoras e atrizes, com outras perspectivas, afinal ser mulher não é algo fixo e nem único. Ao mesmo tempo nos orgulhamos muito de ter o grupo há tantos anos, é como um casamento completo e celebramos também nossas conquistas. Se somos inspiração para várias mulheres, com certeza isso nos traz muita felicidade e também com certeza é fruto de outras mulheres que nos inspiram diariamente a seguir no nosso caminho.
LB: Quais são as maiores inspirações de vocês?
Cia de 4: Desde sempre apreciamos grupos e séries de humor ácido. Nossa primeira esquete foi baseada em uma do Saturday Night Live, que até hoje nos inspira, a gente ri lembrando. Somos quatro pessoas que formam um grupo, então mesmo que em muitas coisas a gente concorde, temos gostos totalmente diferentes e isso é muito legal pois nos alimentamos culturalmente. Somos devoradoras de séries, filmes e livros. A gente assiste, depois discute. Óbvio, temos as amadas por todas que usamos de referência, como “Flea Bag”, “Big Little Lies”, “Orange is the New Black”, “Handmaid’s Tale” e além das clássicas “Sex and the City”, “Friends”, “Breaking Bad”, “Mad Men”. Trocamos muito sobre filmes também que vão de “Gone Girl” a “Meninas Malvadas”. Gostamos muito da Tina Fey, Amy Poehler, Maya Rudolph, grandes atrizes e realizadoras e de muitas personalidades brasileiras também como Fernanda Torres, Tatá Werneck, Andrea Beltrão, Taís Araújo, Heloísa Périssé, Ingrid Guimarães, Marisa Orth e tantas outras. A verdade é que para criar um projeto, por exemplo, qualquer coisa pode nos inspirar: de uma notícia de jornal, a um áudio de Whatsapp ou um sonho que tivemos.
LB: Nesse período de quarentena vocês estão com a série de esquetes “Zodíaca na Quarentena”, com participação das atrizes convidadas Natália Balbino, Priscilla Maria e Sol Miranda. Como está sendo pra vocês poder levar um pouco de alegria para o pessoal de casa nesse momento de isolamento?
Cia de 4: Ficamos super felizes de poder contribuir de alguma forma para que o dia das pessoas fique um pouco mais leve. Todos nós corremos o risco de deixar a tristeza falar mais alto, afinal, como não se abalar com tudo o que está acontecendo, principalmente no Brasil? Por isso, precisamos ter uma distração, algo que nos faça rir, que nos relembre nosso bom humor. Nós 4 da Cia temos vivido muito de memes e vídeos engraçados. A comédia alivia e faz o dia ser mais divertido. Podemos contar com essas três atrizes maravilhosas e muito engraçadas também. Foram grande parceiras que desde o início compraram nossa ideia e se entusiasmaram pelo projeto. Todas nós temos nos falado o quanto está sendo bacana manter a cabeça ocupada pensando nesses vídeos. Acreditamos que todo mundo tem uma habilidade para contribuir com o coletivo. Cultura, entretenimento, comédia é a nossa. Gostaríamos que esse momento servisse para que todos os brasileiros entendessem a necessidade de cultura e da arte, o quanto ela alivia, ensina, envolve… Esperamos que a cultura tenha mais de reconhecimento quando tudo isso passar. Fazemos com todo o amor.
LB: O que podemos esperar dos projetos futuros da Cia de 4?
Cia de 4: Adoramos projetos que a gente possa trazer mais da nossa cultura brasileira. Atualmente, temos produtos para TV (E! No Filter), internet (Zodíaca na Quarentena e nosso podcast Prato Frio) e gostaríamos muito de voltar para os palcos. Não sabemos quando e nem de que forma isso será possível. Mas era um desejo antigo de nós quatro, porque viemos do teatro e nos unimos por causa dele.
LB: Mande uma mensagem para todos que leram a matéria até aqui
Cia de 4: Obrigada ao Portal Latinos Brasil pela matéria e obrigada também você leitor, que chegou até aqui. Queremos desejar muita paz, proteção, saúde e tranquilidade para esse período turbulento que estamos vivendo. Se for possível pra você, fique em casa, pois assim você cuida de você e de todos. Quem tiver interesse em saber mais sobre o nosso trabalho, estamos no instagram como @ciade4 e no facebook como Cia de 4 Mulheres. Beijão!