La La Land foi um filme que encantou não só sua audiência, mas também à diversos críticos. O filme, dirigido pelo Damien Chazelle, conta com uma fotografia impecável, trilha sonora milimetricamente calculada para acompanhar o roteiro e personagens cativantes em situações fáceis de se identificar.

Apesar de muitos lembrarem do romance dos dois personagens principais como característica mais marcante da obra, o segundo fator mais importante -e frequentemente esquecido- é a forma como La La Land retrata as dificuldades de se seguir uma carreira artística. O filme acompanha Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling) enquanto eles procuram se estabelecer como atriz e músico. A equipe ilustra, através de diversos elementos e de forma precisa mas sensível, como é necessária muita paixão para se alcançar os holofotes.

O conflito do artista ou “artist’s struggle”


La La Land tem como forte característica a mescla entre realidade e sonho. Logo na primeira cena temos um engarrafamento, algo comum, corriqueiro e frustrante, seguido por uma coreografia mirabolante de dança. Isso serve não apenas para nos apresentar o tom que o filme irá adquirir até o final, mas também como metáfora para a vida dos personagens.

Atores, escritores, músicos e basicamente qualquer um que viva de arte tende a estar muito próximo da fantasia, do ilusório, pois esses são seus instrumentos de trabalho. Ele vive entre uma quase necessidade de seguir sua vocação e a obrigação de lidar com as dificuldades que isso lhe traz, repleta de rejeições e fracassos. Esta dualidade é visível ao acompanharmos ao longo do filme a trajetória dos personagens. A Mia é uma aspirante a atriz que se fascina pela natureza imprevisível de Los Angeles. Ela frequenta diariamente um set de gravação e vez ou outra chega a fazer parte de uma cena como figurante, ficando próxima da atuação, coma qual ela é fascinada, mas sabe que está lá por conta de um emprego numa cafeteria necessário pra pagar as contas. Da mesma forma, o Sebastian gosta de frequentar clubes de Jazz e se encantar com as sensações que a melodia o traz, mas ainda precisa tocar pop dos anos 80 em churrascos para pagar o aluguel. La La Land é realista por retratar as incertezas e os fracassos que antecedem o sucesso, fazendo com qualquer um que já tenha batalhado por um sonho possa se identificar.

                    

A intercalação de cenas, hora fantásticas, hora ordinárias, representa o dilema pelo qual o artista tem que passar. E como essa busca pelo sonhos e fantasia é cansativa e agridoce. É difícil alcançar prestígio em tais profissões, mas a paixão pela fantasia que a arte traz, e pelo ato de criar algo, é impossível de controlar e é o que o incentiva a persistir.

Muito dessa premissa é também representado na trilha sonora do filme. Não só em “The Fools who Dream”, que virou um hino dos artistas, mas também em “Another Day of Sun”, que apresenta o relato de pessoas que saíram de sua cidade natal em busca de sonhos por se encantarem com a magia de filmes e da arte.

 

A importância de conexões humanas


La La Land, obviamente, não é o único filme que representa essa luta e esforço exigidos por carreiras artísticas. Outros filmes, mais notavelmente Whiplash (igualmente dirigido pelo Damien Chazelle) e Cisne Negro também ilustram esse conflito, apenas de forma mais visceral e agressiva. Neles, o esforço completo e a auto deterioração podem levar ao sucesso ou a ruína, separados por uma linha bem tênue. Enquanto em ambos os filmes os personagens se afastam de suas famílias e pessoas amadas pra atingir seu objetivo, em La La Land o assunto é abordado de forma doce e otimista. É quando a Mia e o Sebastian se juntam que eles ficam mais próximos de alcançar seus sonhos.


Isso demonstra o quão importante é para nós formarmos conexões profundas e significativas em nossas vidas, que podem ser usadas para aprimorar a nossa arte. Ter alguém que acredita em nós e em quem podemos acreditar. Os dois se juntam por compartilharem sonhos, aspirações e por entenderem a luta um do outro para alcança-los. É quando ele se afasta do seu desejo de abrir um clube de Jazz que sua

relação com a Mia passa a se deteriorar. Já ela, só consegue ter sucesso na carreira de atriz por conta dele ter a forçado a ir para a audição.

As músicas que reforçam essa afirmação no texto são Someone in the Crowd, onde as amigas da Mia cantam que alguém na multidão pode ser aquele que lhe tirará do chão, o que pode ser relacionado com o fato que foi o Sebastian que a fez deslanchar como atriz. E City of Stars, que diz que tudo o que procuramos é o amor, como se apenas se permitir ter conexões genuínas com outras pessoas (e não se isolar na obsessão) te impulsione pra frente.

O custo de ser um artista


Outro aspecto muito abordado em outras obras: a ideia de que não se pode ter tudo. São inúmeros os exemplos que apresentam personagens workaholics (viciados em trabalho) que apesar de serem bem-sucedidos em sua vida profissional, acabam negligenciando a vida pessoal ou tendo dificuldade de lidar com ambas. É o caso de Girlboss, série baseada na vida da Sophia Amoruso, criadora da loja Nasty Gal, que nos últimos episódios é traída e tentar lidar com a situação em conjunto com o seu sucesso na empresa. Ou da trajetória da Princess Carolyn de Bojack Horseman, que se doou toda a carreira, mas sofre recaídas por não ter se dedicado a vida amorosa quando mais jovem. Em La La Land, os personagens não terminam juntos. E apesar da sua relação tê-los promovido o sucesso seguinte, ela acaba ficando para trás pois como o Sebastian diz próximo ao final “eles têm que se dar por completo.”

A sequência no final que resume toda a narrativa do filme com uma visão otimista, mais parece um espetáculo criado pelo Don Lockwood em “Cantando na Chuva”, repleto de cor, dança e figurantes.

Ela relata a fantasia que seria se eles pudessem manter suas carreiras e seu relacionamento. Isso entra em contraste com o verdadeiro final do filme que, novamente, traz a realidade de volta à tona. É nesse momento que a melodia do tema dos dois personagens é tão importante, pois ela evoca alegria e esperança ao mesmo tempo que melancolia e pesar.

O custo de ser um artista e de se empenhar pelo seu trabalho não é apenas abrir mão de relações amorosas. Significa também um grande sacrifício emocional e físico, mas que é necessário para que se chegue onde se quer. Talvez o momento em que isso fica mais claro para a audiência é na audição final da Mia. O que é talvez a cena mais bonita do filme e certamente o que prometeu o Oscar pra Emma Stone fala daqueles que sonham, e de como eles são idiotas por se submeterem a algo tão difícil. Ela é sobre a necessidade de se entregar por completo, de pular no rio sem sapatos e se deslumbrar nas maravilhas que aquela vida incerta te proporciona, mesmo que por apenas alguns instantes. No momento em que a Mia mais pensava em desistir e que não conseguiria mais aceitar rejeição, só uma pitada de loucura poderia faze-la continuar e a trazer novas oportunidades.

Cores

Por fim, não só as músicas podem apoiar as ideias do filme sobre “the artist’s struggle” mas também um dos elementos mais bem trabalhados do filme: a fotografia. Não dá pra falar de La La Land sem falar de cores.

Para representar a dualidade entra fantasia e realidade, o filme transita entre cenas por cores vibrantes e primárias, como vermelho, amarelo e azul (fantásticas e deslumbrantes) porém pouco encontradas naturalmente, portanto um pouco irreais) e cores neutras e sem vida com tons bem leves, como cinza e bege.

Para representar a conexão que os dois formam, o filme primeiramente os mostra com cores primarias, sozinhas e opostas e vai lentamente move para cores secundárias, como verde e roxo, simbolizando uma união com tons que deixam as cenas cada vez mais agradáveis.


Já o uso de azul e vermelho nas cenas representam ambos junção e distanciamento. Na cena em que os dois conversam no quarto da Mia eles se mesclam tornando um lilás agradável. Esse lilás se repete durante a audição, o que pode apoiar a ideia de que a união dos dois os motivaram a não desistir dos seus sonhos.

No final, vemos vários elementos de roxo na cena que mostra como seria se eles tivessem conseguido tudo o que queriam ficando juntos e depois esse roxo se divide em azul e vermelho, separados novamente, complementando a música ao mesmo tempo apaixonante e melancólica e tornou-se o tema dos dois.

 

Através de cores, a fotografia auxilia o roteiro, representando os almejos e aflições de dois artistas, que se juntam por compartilharem a paixão por algo, e depois se separam em prol de seus sonhos.